sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O Jabuti e o Quadro

Se um jabuti vai a um museu e vê um quadro que o deixa maravilhado, mas ao mesmo tempo triste por saber que nunca poderá tê-lo, ele há de voltar para seu lar e organizar sua mente. Há de pensar que o que mais o deixou estupefato de alegria ao vê-lo, foram seus traços, sua textura, mesmo não podendo senti-la, e a imagem que preenche sua mente. Há de entender, que o quadro em si é apenas um objeto, um retângulo fixado numa parede. Algo que com um simples incêndio se tornaria cinzas. Então, após analisar esses fatos, o Jabuti entende que o mais importante é a imagem do quadro, a sensação que ele sente ao contemplar aquela pintura e principalmente, a certeza de que levará consigo toda essa mistura de sentimentos para onde quer que vá, para onde quer que olhe. Afinal, ''O mais importante é invisível aos olhos.'' E assim, após entender e absorver tudo isso, o Jabuti pode retornar quantas vezes quiser ao museu e contemplar o quadro, sem sentir remorsos... Só felicidade por ter a oportunidade de vê-lo enquanto ele ainda não é somente um punhado de pó… E a certeza de que, quando isso acontecer, a imagem permanecerá em sua cabeça para sempre.

Just the memories.

domingo, 9 de janeiro de 2011

As Rosas e as Abelhas

Um certo dia bem bonito, uma rosa encontrou uma abelha encantadora. Ela ia todos os dias com a rosa, não podiam conversar, mas ficavam se apreciando... A abelha sempre lhe dava um beijo. A rosa ficava muito feliz, pois as pessoas nunca a tocavam, por causa de seus espinhos. Porém, sempre que ela recebia um beijo da abelha, ela sentia-se um pouco mais vazia. Como se ela tivesse sido usurpada. Mas ao mesmo tempo, apenas o fato de ela ser agraciada, sentia-se muito feliz. E a abelhinha ia e vinha... Sempre levando consigo uma pedaço da rosa. Passado alguns meses, outra rosa foi plantada, ao lado da protagonista da nossa história. Era muito atraente, com grandes pétalas vermelho-carmin. Tinha um odor agradabilíssimo... Porém, era também muito triste. A rosa perguntou à bela:

- Por que sofres tanto?

- Porque todos apenas me usam. Os humanos querem me presentear, sorte eu ter esses espinhos grossos. Os animais querem arrancar minhas pétalas. As abelhas ficam roubando meu pólen... Não sei o que fazer.

- Mas os homens querem nos presentear porque somos belas. Somos símbolo do amor. Isso não é bom?

- Na verdade, não tenho muita certeza disso. O amor já é amor por si só. Se é um sentimento tão belo, como dizem, por que precisam provar toda hora? A simples verdade do amor não basta?

- Suponho que baste… Mas o sentir é algo bastante subjetivo. Vivemos e sentimos. Sentimentos podem mudar constantemente, mas o âmago é sempre o mesmo. O presentear e o falar são banais, sim, mas vai dizer que você não fica feliz quando escuta um ''eu te amo''? Afinal, quando é amor de verdade, você sabe e então as palavras já não são mais tão inconsistentes.

- Pode ser que isso seja verdade. Mas e as abelhas? Não vê como elas são egoístas?

- Por que pensa assim? Eu sempre as achei adoráveis. Elas, apesar de meus espinhos, sempre me dão um beijo.

- Oh, como é ingênua! Elas não te beijam. Elas roubam seu pólen… Por isso nos sentimos ligeiramente vazias quando elas nos ''beijam'', como diz.

- Eu não sou ingênua bela rosa. Sei que elas pegam meu pólen e sinto-me um pouco vazia sim, mas o bondoso sentimento que sinto por elas faz com que o vazio seja preenchido com grandes quantidades de felicidade e paz. Isto que eu sinto é tão bonito quanto inexplicável. Nada nesse mundo é completamente bom ou completamente ruim…

- Não sei se te entendo… Você diz que se sente vazia, mas ainda sim fica feliz… Como pode?

- Como disse, tudo tem seu lado bom e ruim. Um sentimento bondoso, por mais agradável que seja, causará um certo desconforto, mesmo que mínimo. Há algo muito grandioso que os humanos costumam chamar de amor, mas nem todos sabem o que ele realmente significa. O amor é uma grande conquista, sabe, e como todas as grandes conquistas, sempre há uma parcela de perda. Por vezes, há dor, angústia e sofrimento… Mas todas essas perdas são preenchidas com doses da felicidade infinita, ainda que dure até o dia seguinte e as feridas causadas pelas dores e intempéries do caminho são cicatrizadas pelas certezas que o amor nos mostra… O amor causa a certeza da vida. Consegue me compreender, bela flor?

- Talvez… Quem sabe o tempo me mostre isso. Mas entenda, suas palavras são para mim uma neblina, bastante densa e fria, mas apenas uma neblina… Preciso sentir, entende, preciso que isso o que você disse aconteça comigo para que, um dia, eu possa acreditar nisso… No amor.


terça-feira, 4 de janeiro de 2011

21. Enciclopédia

"ARMADILHA INDÍGENA: Os índios do Canadá usam uma armadilha para ursos das mais rudimentares. Consiste em uma pedra grande molhada em mel e suspensa em um galho de árvore, com uma corda. Quando o urso vê aquilo que ele acha ser uma guloseima, aproxima-se e tenta pegar a pedra, dando patadas. Com isso ele cria um movimento de balanço e, a cada vez, a pedra lhe devolve uma pancada. O urso se irrita e bate cada vez mais forte. E quanto mais bate, mais é batido. Até o nocaute final.
O urso é incapaz de pensar: "E se eu parar esse ciclo de violência?". Mas ele apenas se sente frustrado. "Estão batendo em mim e eu devolvo as pancadas!" é tudo que ele pensa. Por isso a sua crescente raiva. No entanto, se ele parasse de bater, a pedra se imobilizaria e ele poderia eventualmente notar, uma vez restabelecida a calma, tratar-se apenas de um objeto inerte pendurado em uma corda. Bastaria, então, arrebentá-la com as garras, fazer a pedra descer e lamber o mel.

Edmond Wells,
Enciclopédia dos saberes absolutos e relativos, tomo II."


O Dia das Formigas, Bernard Werber.