sábado, 11 de janeiro de 2014

Metrôs

Roberta está triste. 
Às 18 horas, voltando de um passeio solitário pelas ruas da Cidade Velha, segue seu caminho para casa num metrô. Ela olha a sua volta - a seu lado, na janela, um senhor grisalho, com uma boina marrom e um olhar perdido. Na sua frente, uma jovem loura, com calças rasgadas, maquiagem preta, boca vermelha e nenhum sorriso no rosto. Do outro lado, uma senhora de idade - beira os 70, brigando com seu netinho, que faz caretas e é o único sorrindo no trem - ne t'excite pas! E a criança se acalma por alguns minutos. 
Roberta olha para o lado. Para o outro. Para a frente. Já está no fim do dia e ela não conseguiu conversar com ninguém. Nenhuma pessoa da cidade lhe dirigiu a palavra - "o que há comigo, afinal?" 
Mas no metrô é tão pior. Aqueles seres, tão próximos uns dos outros! Mas nenhuma palavra. Ninguém quer desperdiçar conversas. Quando olhares se encontram, logo os olhos se desviam. Não há coragem suficiente para sustentar a indagação que paira nas pupilas negras. Mas afinal, o que se encontra debaixo da terra, senão gente morta? Roberta nunca gostou de metrôs. A proximidade tão distante em que essas pessoas todas se encontram faz pensar que o amor perdeu. A harmonia, a beleza, a diversão, a curiosidade - estão todas mortas. 
As portas se abrem. E então, ao longe, um violino! Roberta não apenas se consola, como também ama quando a música dos anônimos corta o ar de funeral do metrô - a vida está aqui, afinal. Aqui há gente viva.
E então ela se sente culpada:
- E se eu dissesse ao senhor grisalho ao meu lado: "Que sol bonito fez hoje, não?!"
Talvez ele se encontrasse. Talvez Roberta se encontrasse.

Falta coragem no mundo.
E amor.