quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Infinito

As tragédias acontecem sempre de repente, inesperadamente.

(Tudo se torna óbvio depois que a gente fala).

O fato de nossos dias serem parecidos não significa que nada acontece de repente.

A questão é que o banal não marca - os dias tem um sentido de continuidade, de semelhança, de lentidão, de eternidade.

Até a tragédia acontecer. Um rompante. De repente. 

Você até tem a sensação de não pertencer mais nesse tempo. Parece agora um universo paralelo.

Parece que você está vendo tudo de longe, sem entender nada.

O tempo, a continuidade, a eternidade - tudo perde o sentido.

É como desaprender a viver. 

Porque antes era um dia após o outro... sabe? A semelhança dos dias.

Então a tragédia te tira o chão dos pés.

Você até se questiona se um dia conseguirá ver sentido nas coisas...

Porém a roda segue girando, e quando você menos espera, a semelhança dos dias retorna.

A lentidão, a continuidade, a sensação de sermos eternos.

Claro que dessa vez com um gostinho diferente: a sabedoria da finitude.

Toda dia você sente isso na pele, então de fato você reaprende a viver e a sentir.

Sorrisos tem novos significados.

O céu azul, o vento, o sol, as melodias, os passarinhos.

Você os sente de uma maneira diferente.


Fecho meus olhos - sinto o som ao redor, o peso do meu corpo, respiro fundo...

Isso é tudo o que tenho. Esse único momento. Essa única respiração. Isso é ser infinito.