As tragédias acontecem sempre de repente, inesperadamente.
(Tudo se torna óbvio depois que a gente fala).
O fato de nossos dias serem parecidos não significa que nada acontece de repente.
A questão é que o banal não marca - os dias tem um sentido de continuidade, de semelhança, de lentidão, de eternidade.
Até a tragédia acontecer. Um rompante. De repente.
Você até tem a sensação de não pertencer mais nesse tempo. Parece agora um universo paralelo.
Parece que você está vendo tudo de longe, sem entender nada.
O tempo, a continuidade, a eternidade - tudo perde o sentido.
É como desaprender a viver.
Porque antes era um dia após o outro... sabe? A semelhança dos dias.
Então a tragédia te tira o chão dos pés.
Você até se questiona se um dia conseguirá ver sentido nas coisas...
Porém a roda segue girando, e quando você menos espera, a semelhança dos dias retorna.
A lentidão, a continuidade, a sensação de sermos eternos.
Claro que dessa vez com um gostinho diferente: a sabedoria da finitude.
Toda dia você sente isso na pele, então de fato você reaprende a viver e a sentir.
Sorrisos tem novos significados.
O céu azul, o vento, o sol, as melodias, os passarinhos.
Você os sente de uma maneira diferente.
Fecho meus olhos - sinto o som ao redor, o peso do meu corpo, respiro fundo...
Isso é tudo o que tenho. Esse único momento. Essa única respiração. Isso é ser infinito.